sábado, 12 de fevereiro de 2011

Luanda - Sangano

Fui a Sangano no fim de semana passado.

Sangano é uma localidade litoral que fica a cerca de 90 km a Sul de Luanda, mas é como se ficasse a 300 km. Isto porque atravessar a Estrada de Benfica (sim, em Luanda também há uma Estrada de Benfica) em pleno "Dia de Início de Luta Armada" (4 de Fevereiro) consegue ser exponencialmente mais complicado que o trajecto via 2ª circular Benfica - Campo Grande nas horas de ponta em dia de chuva intensa.

Ao longo da Estrada de Benfica somos persistentemente abordados por vendedores ambulantes que nos exibem garrafinhas de água, cerveja, desodorizantes para o carro, cartões de carregamento para telemóvel, carregadores de telemóvel para automóveis (de todas as marcas), cd's, tabaco, batatas fritas, óculos de sol e tudo mais o que possa ser eventualmente necessário (ou não) no pequeno longo trajecto que nos espera.

Vêem-se a cada 20 metros barraquinhas que vendem fruta, água, colchões insufláveis, chapéus de sol, mandioca cortada aos quadrados embrulhada em sacos de plástico, refrescos, cadeiras de praia, redes, peixe fresco (ou nem tanto, já que estava ao sol), geleiras e um manancial de outras coisas que dificilmente se obtêm num qualquer hipermercado em Lisboa.

Terminado o calvário da Estrada de Benfica e ainda com alguns 70 km pela frente, parámos  no "Miradouro da Lua". A paisagem fala por si.







Mais à frente,a chegar à Barra do Kwanza, parámos para beber uma Cuca (que acabou por ser Carlsberg) num stand meio improvisado meio definitivo. Nem por isso nos sentimos menos bem-vindos.




Não sei quem estava mais curioso e alegre: se eu, se estas crianças.


Deu-me vontade de sair porta fora do carro e juntar-me aos seus sorrisos.

Mas Sangano esperava-nos e continuámos caminho, já sem trânsito, acompanhados pelos centenários imbondeiros que brotavam da berma da estrada, cada um com um feitio mais retorcido que o outro.

E eis que chegámos à nossa estância balnear. A paisagem compensou qualquer calvário.







Lá chegados, e perante este cenário, foi com entusiasmo que ajudei a montar a tenda para passar a noite. A perspectiva de um arroz de lagosta acompanhado com Gazela e um mergulho nocturno em águas mornas entusiasma qualquer um. Ao som de uma viola, cantares improvisados e à luz de uma (quase) fogueira, acabou por ser um serão muito bem passado.

 Foi a primeira vez que fiz campismo selvagem. Primeira e última, a não ser que vá ao engano.

O arroz de lagosta estava excelente (eu pelo menos achei, mas também não trato lagostas por tu), o mergulho nocturno foi absolutamente refrescante (face aos 30 º C que se faziam sentir) mas dormir foi impossível.

O calor e os mosquitos que alegremente dançavam na minha bochecha direita, que por pouco quase ficou como a paisagem do Miradouro da Lua, impeliram-me para fora da tenda. Repelente? Repelente europeu não resulta em mosquito africano. Para eles é tempero.

Já deitada cá fora, relativamente mais confortável (ao menos passava uma ligeira brisa) até pensei:

"Podia ser pior, ao menos não está a chover".

Quando senti um baque seco (e ao mesmo tempo húmido) na minha testa lembrei-me das Leis de Murphy.

Mas preferi continuar à chuva (apenas umas gotinhas para os parâmetros africanos) que voltar para dentro da sauna em que se tinha transformado a tenda.

O que vale é que no outro dia ainda era Sábado. Enchi-me de protector solar (mais um pequeno milagre africano, para quem me conhece e sabe que sou adepta de escaldões) e arrochei em todas as sombras que fui encontrando.

Rematámos o Sábado com um arroz de peixe de recarregar baterias e voltámos para Luanda. O regresso foi pacífico e silencioso, a pensar em lençóis frescos e num banho de água doce.

Fica a viagem, a paisagem, o arroz de lagosta, os momentos com os amigos e uma pequena aventura.

Pode ser que vá ao engano mais algumas vezes.




4 comentários:

velutha disse...

Realmente é espectacular esse passeio!!!

E... claro q vais ter q ir mais vezes, afinal de contas eu não estava e agr fiquei c o bichinho de ir a Sangano!

PS - Então e o frio q está nesta terra?! Brrrr... =)

Ricardo disse...

Olá Filipa,
Não sei se é o mesmo sítio, mas a minha amiga Andrea (de quem te enviei ocontacto) já me falou várias vezes de um pequeno hotel de bungalows que fica próximo da foz do kwanza. Parece que é bastante acessível, para padrões angolanos,e um sítio encantador.
Continua com as histórias...
bjs
RF

James disse...

Inveja ...

Unknown disse...

@ João Tiago: olha que já estou em countdown... :( Não me apetece nada regressar ao frio...

@ RF: Em Sangano também havia bungalows, mas optámos pelo campismo... Mas os bungalows tinham óptimo aspecto... enfim... para uma próxima...

@ James: Rói-te!!