O momento requer um tanto de solenidade e lamechice. Vou regressar a casa daqui a umas horas e as despedidas sabem-me sempre a pouco.
Ontem fiz questão de dizer um até já às pessoas e aos locais que me vão deixar mais saudades. O plano era simples: jantar-petiscada e um pezinho de dança na primeira discoteca a que fui em Luanda: o Eden.
Mas a imprevisibilidade de Luanda arrasa qualquer plano, por muito simples que seja. O jantar-petiscada correu maravilhosamente, no restaurante "Palhota", entre quitetas, leitão assado (da Bairrada!), choco frito (tão bom ou melhor que o de Setúbal), chouriço picante, tudo com batatinhas fritas a acompanhar.
Estavamos sentados na esplanada, coberta com uns chapéus de sol e uns toldos improvisados, quando o primeito clarão iluminou os céus.
"Será que vai chover?"
Não demorou muito para saber a resposta. O dilúvio foi de tal ordem que não houve toldo nem chapéu que não cedesse.
"Salvem-se as quitetas e o choco!" Essa era a prioridade.
Lá nos conseguimos encolher todos nos espacinhos minimamente secos, depois de uma ciranda de cadeiras, mesas, travessas, talheres e copos. Sem maka, que vieram mais quitetas e choco.
Passava pouco da meia noite quando arrancámos para o Eden. O dilúvio tinha acalmado, mas a chuva continuava a dar o ar de sua graça.
"Ainda não abriu".
Começa bem. Ficar à chuva não era opção (ainda) e em Luanda não há propriamente barzinhos para drinks ou, como dizem os mexicanos, para pre-copar. Apelo desde já à comunidade internacional (ONG's incluídas) para suprimirem esta enorme falha na noite Luandense.
Por outro lado, há discotecas como se não houvesse amanhã. Um pouco menos Afro, a discoteca Miami era mesmo ali ao lado (que é como quem diz 15 minutos a pé), embora não seja muito pródiga em música angolana. Tinha esperança que naquela noite fugisse à regra.
"Está fechado".
Fazia sentido, dado que é uma discoteca praticamente toda ao ar livre e o sítio estava "indançável".
Foi aí que a chuva ceifou as minhas expectativas de acabar a noite ao som de kizomba. Luanda chorava.
Avançámos para o Lokal, outra discoteca, essa sim, literalmente mesmo ali ao lado. Também não era coberta, o que acabou por revelar-se bastante positivo. É que dançar à chuva, como um calor dos diabos, ao som da música "This time for Africa" foi verdadeiramente arrepiante. Nunca mais menosprezo a Shakira.
Luanda ensopou-me. Fosse em Lisboa já tinha apanhado uma pneumonia ou, quem sabe, gripe A. Como aqui não há dessas coisas finas de gripes com letras, além de que o calor fazia eveporar todas as gotículas que caíam, sentir aquela chuvinha quente até deu mais emoção à despedida.
Foi o verdadeiro Dancing in the rain.
Dois meses depois de ter chegado continuo a ser surpreendida por esta cidade.
Sei que irei perder muitas mais surpresas.
4 comentários:
Para a onde a seguir?
Ohhh moça...
Minha pula mangolê.. é assim mesmo...
Outras paragens te esperarão, enquanto tens Luanda no Coração..
Bom regresso à tugalândia.. :o))
Vais ver que Lisboa te vai acolher com um sol sorridente (espero eu). Já agora, não sei das gripes, mas um amigo meu veio daí com malária...
beijos e até à praia
@ Tiago: onde o vento me levar... :P
@ camaleoa: chuif!!
@ Ricardo: neste momento temo mais as gripes que a malária... bjs e até à praia
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