sexta-feira, 11 de março de 2011

Pequenas coisas do quotidiano em Luanda - Parte IV

O Suor

Estou para escrever sobre este tema desde que saí porta fora do avião, pela primeira vez, no Aeroporto Internacional de 4 de Fevereiro. O pudor e a etiqueta têm-me impedido de ousar dissertar sobre as vicissitudes que a temperatura constantemente elevada provoca nas glândulas sudoríparas. Tentarei ser o mais delicada possível, mas há coisas que têm de ser ditas, não vá alguém ao engano.

Aqui sua-se. Não é preciso muito, basta não haver ar condicionado. Ou melhor, basta o ar condicionado estar regulado acima dos 23ºC. E mesmo assim, não é certo. Sua-se em casa, na rua, nos restaurantes, nas repartições públicas, nos supermercados, nos carros, na praia e à sombra. No início, confesso, é assaz incomodativo. Mas não demora muito até integrar naturalmente o nosso quotidiano.

Primeiro estranha-se, depois entranha-se.

Estou certa que não era à Coca Cola que Fernando Pessoa se referia quando se lembrou desta brilhante tirada. Referia-se, sim, ao suor que se fazia sentir nas Colónias Ultramarinas (ou para ser politicamente mais correcta, nas Províncias). Interpretaram-no mal. Nunca teve muita sorte, coitado. Até hoje ninguém percebeu muito bem o que ele queria dizer. Já o Álvaro de Campos era cristalino.

Come chocolates, pequena...

Devaneios à parte, nem os três frascos de desodorizante que trouxe de Lisboa me safaram. Dove Invisible Dry 24h. Pois sim. Nem invisível, nem seca, nem 24 horas. Com sorte, nos primeiros 10 segundos depois do banho. Um grandecíssimo embuste, um típico caso de publicidade enganosa, sem pôr nem tirar. Ao menos poderiam ressalvar que o produto só é aplicável em climas distantes do Equador. Dove Invisible Dry 24h 2000000 miles away from the Equator. É que não foi uma nem duas vezes que tive de mudar de roupa a meio do dia. A sorte é que se lavo roupa à tarde, à noite já está seca.

Mas com as minhas vicissitudes sudoríparas posso eu bem (nem tive outro remédio). Já as vicissitudes sudoríparas dos outros são mais difíceis de suportar. Especialmente em elevadores. 

Ai Pessoa, se tu soubesses...








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