Sempre tive uma paixãozinha oculta por hip hop. Nada de muito assolapado. Uma coisa de vai e vem. Gosto da batida e das rimas e da paixão com que uma frase é atabalhoadamente comprimida ao ritmo da música, independentemente do comprimento. Estica-se uma sílaba, encolhe-se a outra, os ditongos são quando um homem quiser, e cá vai disto. No fim acaba-se sempre por abanar a cabeça e sentir as palavras que, regra geral, requerem revolução. É um apelo ao pequeno intervencionista que existe em cada um de nós (e quem o negar é mentiroso) e que volta e meia lá dá sinais de vida.
"'Bora ao concerto do Bob da Rage Sense no Cineteatro?"
"'Bora."
Não era eu que ia perder um concerto do artista do momento, cuja existência desconhecia em absoluto até à data. Para além de que ir ouvir "hip hop" num "cineteatro" tinha qualquer coisa de místico. E de improvável. O suficiente para me despertar a curiosidade.
A fachada do Cineteatro de Luanda tem a imponência da palavra. É uma espécie de réplica daquilo que talvez tenha sido um Cineteatro helénico. Com direito a colunas altas e fronte (penso eu) de pedra, onde estavam talhadas algumas personagens da mitologia greco-romana. Ainda consegui distinguir Neptuno, graças ao Tridente.
Mal chegámos, percebi que o evento era de dimensão consideravelmente razoável face ao tamanho do anfiteatro (não me quero enganar mas talvez seja comparável ao Politeama, só que ao ar livre) e ao número de pessoas que lá se encontravam (talvez mais de 500). Mulheres? Umas dez. Brancas? Três. E eu só conhecia uma delas.
Tenho a dizer que esse facto não me fez sentir minimamente desconfortável, nem observada. Vá, talvez ligeiramente observada, mas com aquele tom de curiosidade e uma pitada de condescendência que uma pessoa sente quando vai overdressed para uma festa na praia.
Antes de o Bob entrar em cena, actuou um número interminável de artistas angolanos de hip hop, cujos nomes, confesso, não fui capaz de memorizar. Mas deu para perceber que Angola não é so kizomba.
Gostei de ouvir o Bob. Gostei mesmo. As letras são inteligentes, revelam cultura, mostram paixão e têm mensagem. Só espero é que essa mensagem não seja mal interpretada.
O publico sabia este refrão de cor. E a verdade é que fica no ouvido.
Foi um concerto bastante tranquilo, com constantes mensagens de paz e apelo à serenidade.
"Paz, meu irmão. Sê inteligente na tua luta."
Já no final do concerto, duas branquelas juntaram-se à multidão que esbracejava ritmadamente ao pé do palco. Tiraram fotos e tudo. Doidas.
"Paz, meu irmão. Sê inteligente na tua luta."
Já no final do concerto, duas branquelas juntaram-se à multidão que esbracejava ritmadamente ao pé do palco. Tiraram fotos e tudo. Doidas.
Paz Bob! Paz Angola!
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