quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

Praia e cinema

A todos aqueles que estão enregelados de frio, a tiritar entre cobertas e botijas de água quente, meinhas de lã e camisolas interiores, os meus respeitosos sentimentos. É que ir à praia em pleno Janeiro, para quem está habituado a ter as mãos roxas e os dedos cheios de frieiras a esta altura do ano, é, no mínimo, irónico. O frio da Europa não assola as Áfricas. Fiquem com ele. Têm ruas limpas? Fiquem com o frio. Têm água potável? Fiquem com frio. Têm estradas circuláveis? Fiquem com o frio. Têm energias renováveis? Fiquem com frio. Têm reciclagem? Fiquem com o frio. Deste clima não me canso.

As praias de Luanda são tão boas e limpas como a praia da Cruz Quebrada. Só que na Cruz Quebrada a água não tem 25º C (de mínima). Nem se vêem vendedores ambulantes com quadros, estatuetas, batatas fritas, pulseiras, óculos de sol, telemóveis, refrescos... De resto, é mais ou menos a mesma coisa. Ainda não sei como são as praias do Mussulo, mas estou expectante.

Percorrendo a marginal de carro, é interessante assistir ao contraste entre o vigor dos verdejantes e o lixo amontoado à entrada do musseque. As palmeiras brotam de sacos de plástico. As barracas escondem-se por trás de bananeiras. E o Atlântico, como pano de fundo, dissipa a poeira e os fumos dos escapes. 

Carros, gente, poeira, motas, crianças, comida, cores, sol, gritos, risos, música, pés descalços, engraxadores, mulheres, mosquitos, fruta. Tudo se vê e tudo se vende à beira da estrada. 

"Dava jeito carvão para o churrasco mais logo" - em casa de um amigo (de um amigo de alguém, perdi a conta, mas também já é meu amigo), algures em Ingombota (ou seria na Maianga?).

"Encosta aí que vi uma senhora a vender carvão". 

Nem saímos do veículo - a transacção comercial prevista no artigo 463º do Código Comercial Angolano foi efectuada pela janela meia aberta do carro.

"100 kwanzas por saco? Dá-me três."

Seguindo viagem, a caminho da churrascada, as obras na estrada, o calor abrasador e a fome (ai, a fome) empurram-nos para caminhos tortuosos e ruas em sentido proíbido. Quando demos conta, já tinhamos sido apanhados. 

- "A Senhora Condutora não fez o exame de código?"
- "Senhor Polícia, tem toda a razão, não vi o sinal e vou levar estas minhas amigas ao aeroporto, que se vão agora embora...!"
- "Vou ter de a autuar..."
- "Senhor Polícia não me faça isso.... como podemos resolver a situação? Compreenda... eu dou-lhe uma gratificação..."

O churrasco correu sem sobressaltos.

"E se fôssemos ao cinema?"

Às 20h30 lá íamos a caminho do Centro Comercial Belas - o único centro comercial em Angola - para ver "O Turista", no imponente CinePlace que orgulhosamente alberga as únicas salas de cinema deste País.

As pipocas deviam ser muito boas, pena foi não termos tido tempo para estar na fila à espera que se fizessem mais. É que a sessão começava a horas.

Ficámos separados, já que a sala gigantesca estava quase cheia, mas na realidade nunca me senti só. Foi como assistir a um jogo de futebol, onde as emoções são sentidas pelos espectadores com a mesma intensidade que as próprias personagens. Palmas para as vitórias, uivos para as desilusões.

E assim se passou um Domingo. Praia e cinema não são nada de absolutamente extraordinário em Lisboa, mas em Luanda é sempre uma aventura.

2 comentários:

camaleoa disse...

Ahahahah...
Moça, o que me ri.. haha....
E.. não é Ingombota, nem Maianga...
Acho que é Valódia mesmo... :o))

Aqui também já se curte..
Beijokasss

James disse...

O que eu tenho saudades sao da noites quentes em que podes estar na praia a beber agradavalmente umas jolas, geladas ...
Beijocas