Não há nada como acordar com o cabelo a cheirar a sardinha assada num quarto impregnado de odor a sangria.
As festividades referentes aos Santos Populares em Lisboa já lá vão há umas semanas e entretanto já acumulei uma série de episódios engraçados, merecedores de descrição detalhada e exaustiva, mas há que respeitar uma certa cronologia dos acontecimentos.
Nunca fui muito dada a multidões embriagadas, encontrões, chuvas de cerveja e música pimba (individual ou simultaneamente considerados) mas desde que fui a Pádova o ano passado em Agosto e trouxe comigo uma cruz de Santo António ao peito, benzida em plena Basílica, que Lhe guardo um certo carinho e reverência.
Não sei se por esse motivo (desconfio que não) este ano submeti-me a uma injecção de Santos Populares de tal ordem que até hoje acordo com o "Pai da Criança" no ouvido e um leve perfume de febra grelhada.
Digam o que disserem é um evento transversal na sociedade lisboeta: vêem-se todas as idades e todas as "classes sociais". Desdentados ou com nariz arrebitado, todos eles dançam ao som do "Mestre da Culinária", abanam as ancas temerariamente na esperança de encontrar espaço para uma pirueta condigna, enquanto cantam alegremente, sem enganar numa vírgula - toda a gente sabe a letra de cor.
Saltam mangericos e reco-recos, as flores, luzes, cores e enfeites de papel dão à cidade de Lisboa ainda mais cor e alegria, especialmente depois do sol se por. É como se o FMI nem existisse (panus et circensis, já dizia o outro). As ruelas de Alfama e os seus esconderijos fumarentos, a íngreme Bica com os seus páteozinhos improvisados, enchem-se de gente que dança, que bebe, que se abraça e que se ri numa felicidade contagiante. Este ano estive lá. Qual Rock in Rio! Os Santos é que é.
Encontram-se pessoas inesperadas, velhos amigos, novas coincidências e entre sorrisos e entremeadas, mais um pezinho de dança uma "mine" a acompanhar, emolduram-se saborosas lembranças que ficarão para sempre na parede da nossa memória.
A ver se compro um mangerico.
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